Mulheres no desporto - Heidi Thornton, Diretora de Ciências do Desporto do Gold Coast Suns
Com uma vasta experiência na NRL e na AFL, Heidi Thornton é uma das estrelas das ciências do desporto em ascensão na Austrália. Ela fala-nos do seu percurso profissional até à data, do seu doutoramento em monitorização de atletas e do impacto que a COVID-19 teve no programa de treino do Gold Coast Suns.
Da NRL para a AFL
A conclusão do doutoramento de Heidi, "Monitorização do treino em desportos colectivos", continua a ser o seu momento de maior orgulho. Trabalhar ao mesmo tempo que se tira um curso é uma tarefa ambiciosa: "O desafio de trabalhar a tempo inteiro enquanto se faz um doutoramento e outra investigação não é fácil".
Foi este doutoramento que levou Heidi a um cargo no Newcastle Knights (NRL), na sua cidade natal. A partir daí, em poucos anos, progrediu para o cargo de Diretora de Ciências do Desporto, antes de se mudar para a AFL com os Gold Coast Suns.
No dia a dia, o papel da Heidi envolve tudo o que diz respeito à monitorização dos atletas; tudo desde a utilização do Catapult durante os treinos e os jogos, ajudando a planear as sessões e a monitorização da carga, até à comunicação dos dados à equipa técnica e de desempenho.
É evidente que Heidi gosta de trabalhar diretamente com os jogadores. "Ter um impacto no que fazemos e ver a sua melhoria é muito gratificante. Estar envolvida num clube jovem e em crescimento, e a camaradagem que daí advém, é fantástico."
Parte do papel de Heidi inclui a investigação com a parceira Griffith University, onde ela onde ela floresce. "Gosto muito de fazer investigação e do nível de pensamento crítico que isso implica".
Desafios enfrentados
"Penso que o maior desafio para uma mulher neste sector é conseguir um cargo seguro". Heidi destaca com eloquência os desafios que enfrentou na sua carreira: "Comecei na Knights numa posição de honra, progredindo depois para um doutoramento, onde felizmente tinha uma bolsa de estudo, mas também tinha de trabalhar externamente para fazer face às despesas. Isso pode ser uma barreira para muitos, mesmo quando tentam seguir esse caminho".
Salienta que "é difícil dizer que, para um homem, esta transição para o emprego no clube seria mais rápida, no entanto, parece haver uma tendência recorrente". No entanto, ver o número de mulheres que trabalham atualmente no desporto pode ser um incentivo em si mesmo. Ela notou que, nos últimos anos, o número de mulheres empregadas cresceu muito, mostrando que é possível para quem está a pensar nisso.
Heidi também salienta a importância de encontrar um bom mentor: "Independentemente do género, eles podem ajudar na transição para o desporto profissional, mas também desafiar e encorajar". Como mentora, Heidi dá o seu melhor para ajudar a encorajar as mulheres a tentar esta carreira, mas sublinha que "são as pessoas acima de nós - empregadores e organizações - que precisam de fazer melhor nesta área para garantir que a carreira seja mais viável. Isto significa ser mais flexível em termos de horários de trabalho com a família, licença de maternidade e talvez opções de partilha de trabalho, mas, no mínimo, a diferença salarial entre homens e mulheres deve ser eliminada".
Heidi é da opinião de que deve ser contratado quem for mais adequado para o trabalho, independentemente do género, "mas é necessário que haja uma representação quase uniforme de homens e mulheres a candidatarem-se a estas funções".
O impacto do Coronavírus
Reflectindo sobre o recente impacto do Coronavírus, Heidi diz que o Gold Coast Suns teve de pensar fora da caixa e repensar a forma como fazia as coisas anteriormente. "De certa forma, isso ajudou a trazer mudanças positivas, algumas das quais continuaremos a usar no futuro". Heidi salienta que houve mudanças todos os dias: à medida que as restrições aumentaram, os dias de jogo foram mudados e os horários adaptados, pelo que "todos os jogadores e funcionários tiveram de ser muito mais flexíveis".
Adaptação à mudança
Na próxima década, Heidi afirma que o mais importante será a adaptação às mudanças no desporto com os avanços tecnológicos. "Mesmo na minha carreira (~8 anos) no desporto, a tecnologia mudou drasticamente e o que faço agora está muito para além do que fazia no início."
Salienta a importância de os profissionais terem de ser capazes de se adaptar a estas mudanças, alterando potencialmente a sua prática em função das mesmas para garantir que continuam a ser relevantes, e que a tecnologia não pode substituir inteiramente o trabalho de um profissional: "O desporto precisará sempre de pessoas para dar sentido à informação de que dispomos para ajudar a tomar decisões".